Oprimido pela falta de tempo. Como matar a genialidade. O Artista e o Resolvedor.
Aprenda a extrair o máximo de você e do seu time.
Faaala galera!
Semana passada eu me senti bastante oprimido pela falta de tempo. Quero dizer oprimido mesmo, não só “na correria” ou “trabalhando muito”.
Você está oprimido quando se sente pressionado e essa pressão é sentida no peito, como uma angústia interna.
Você está oprimido quando o foco fica parecendo obsessão, pois uma coisa é decidir focar outra é não conseguir mais desligar.
Você está oprimido quando a correria passa a ser ansiosa, você está não apenas correndo, mas começa a perceber que está correndo desesperadamente.
E aí nesses momentos qualquer pequena coisa parece grande coisa. Por exemplo, a minha kombi morreu. Não liga mais. “Merda, que saco ter que lidar com isso”. Mas beleza, comprei uma bateria nova. O cara instalou, masssss… ainda assim ela não pegou. Me irritei. E aí entrei numa espiral. Liguei para vários mecânicos, nenhum vinha até aqui em casa. Me irritei mais um pouco. Liguei para guinchos, mas seria difícil tirar ela daqui porque está num subsolo. Me irritei mais ainda.
Acontece que tem mil coisas rolando na minha vida, dentro e fora do trabalho. Vou poupar vocês dos detalhes. O que importa é perceber que, nessas horas, ter mais uma coisa para resolver, mesmo que seja tão simples quanto uma kombi a ser ressuscitada, nos faz perceber que existe uma desproporção entre o tamanho real do problema vs. o tamanho do incômodo sentido - e essa desproporção é o sinal de que você está oprimido.
Ao mesmo tempo, e essa é a ironia a ser gerenciada, eu estou numa das fases mais criativamente produtivas da minha vida. Tentar fazer muito bem feito as mil coisas que estão acontecendo na minha vida é, por um lado, uma estupidez. Porque é óbvio que não vai dar. E em algum momento eu vou colapsar. Por outro lado, essa “tentativa estúpida” exige de você uma intensidade e produtividade fora do comum, que além de vez ou outra colapsar seu sistema nervoso também faz com que você faça muita coisa. Tipo um artista que abraçou seu processo criativo. Ao final, ele está o trapo, e precisa reconstituir seus pedaços. Mas tem também uma obra.
Tem como produzir muito, mas sem vender a alma no processo?
O segredo, para mim, não está tanto em reduzir a intensidade quanto está em simplificar o escopo. Se você mantiver um escopo largo (as mil coisas para fazer) e apenas reduzir a intensidade, você será medíocre. Na melhor das hipóteses.
Ao simplificar seu escopo, se propondo a fazer menos coisas, você poderá canalizar sua intensidade. Isso permite duas coisas: 1) que você suba para além da mediocridade nessas coisas escolhidas e 2) que, vez ou outra, você reduza sua intensidade, o que também é necessário para esfriar os motores e ter uma boa vida.
Como matar a genialidade (sua e do seu time)
Daí que tanto você quanto seu time performariam muito melhor se fizessem menos coisas. E as fizessem com maior esmero.
No marketing, situação comum: times atarefadíssimos, mas com resultados medíocres. Alô @financeiro, preciso de mais uma pessoa! Não, não precisa. Não enquanto não souber canalizar o esforço do time atual.
Um time medíocre não faz quase nada muito mal, mas também não faz quase nada muito bem. Fica naquela zona estranha que você não pode nem criticar mas também não consegue elogiar - e que raramente leva para algum lugar.
Para entender o problema, pense o seguinte:
Para fazer algo ruim, você precisa de 1x de tempo dedicado. Digamos, 1 hora.
Para fazer algo bom, você precisará de 2x de tempo. Digamos, 2 horas.
Mas para fazer algo muito bom, não bastará 3x de tempo. Precisará de ~10x de tempo. Digamos, 10 horas. Porque o pulo do bom para o ótimo exige muito mais esforço do que o pulo do ruim para o bom.
E se você quiser ir mais longe ainda e fazer algo genial, talvez você tenha que dedicar ~50x tempo. Ou até mais. Porque a genialidade está fora da expectativa e não é possível saber se e quando ela virá.
O problema é que, com a pauta tão cheia, você nunca consegue dedicar mais do que, digamos, ~5x tempo em qualquer coisa. De modo que você cria um teto para até onde você vai na curva do esforço, que mantém você e o seu time na zona do bom.
Só que algumas coisas só dão resultado se forem muito bem feitas.
E para que sejam muito bem feitas, é preciso dedicar tempo.
E para dedicar tempo, é preciso parar de nos enchermos de pautas bestas, drenadoras de energia e não contribuidoras para o resultado.
Fazer menos permite que você eleve o teto de dedicação possível para algumas coisas. E possa fazer melhor elas. O segredo aqui é sair do comportamento médio do tudo-mais-ou-menos e escolher suas batalhas:
Para muitas coisas, simplesmente deixe de fazer. Corte fora. Sim, aquele blog que não serve para nada, abandone. Paciência, SEO vem em outro momento (o blog é um exemplo hipotético, evidentemente).
Para outras coisas, aceite que o bom (ou até mesmo o ruim) será suficiente. Ok, faz parte. São as coisas que não contribuirão tanto pro resultado, você sabe, mas que precisam ser feitas mesmo assim.
Mas aí, em algumas delas, tente ser muito bom, quem sabe até genial. É nessas que você jogará toda a sua intensidade. Se você acertar a mão, serão os vetores de crescimento.
O Artista e o Resolvedor
Sugiro que você intercale entre dois personagens: o Artista e o Resolvedor (mas nunca deixa nenhum deles tomar o controle e impedir o outro de coexistir).
O Artista é obsessivamente focado com uma coisa só, a obra que está tentando construir, e insiste nela até o colapso se for preciso. Ele manda tudo à merda para focar nisso, se for preciso fica até sem almoçar. Redução máxima de escopo e intensidade máxima de trabalho. Mesmo assim, alguns produzem porcaria. É da vida. Mas outros produzem coisas ótimas, talvez até geniais.
Mas a vida prática não faz bem para o perfil do Artista, e ele deve ser escolhido com cautela. Para algumas coisas, em alguns momentos. Do contrário, você vai explodir. E mesmo que produza coisas boas, sua vida será miserável.
Então você precisa incorporar o Resolvedor. Ele é o cara das mil abas abertas, que está gerenciando 20 coisas ao mesmo tempo. “Só um minuto”, diz ele no meio da reunião, “o eletricista chegou aqui”. Ele faz reunião, faz reforma e faz almoço ao mesmo tempo. Ninguém sabe como ele faz tanta coisa. Dizem que, se você quer que algo seja bem feito, você deve dar para a pessoa mais ocupada. Ele é sempre essa pessoa. E isso faz muitas coisas avançarem, mesmo que não avancem com a maior qualidade possível.
O Artista produz genialidade, mas avança poucas coisas.
O Resolvedoravança muitas coisas, mas tende a produzir mediocridade.
A boa notícia é que você não precisa ser só um ou só outro. Seja Resolvedorpara as coisas que não precisam ser geniais. Mas também proteja sua pauta e seja um Artista para aquilo que você quer evitar a mediocridade.
E está rolando o Full Stack Marketing, meu programa de formação para heads de marketing. Publicamos hoje o 4º módulo (de 6). Já estamos com 51 aulas disponibilizadas, que totalizam 5h47m. E olha que eu estou falando rápido e cortando tudo que não é essencial.
Não preciso nem dizer que está dando um trabalhão. Mas essa é uma das coisas que decidi me dedicar por inteiro. Algo bom não basta. Por isso coloquei meu Sr. Artista para trabalhar nele (o problema são as kombis da nossa vida que interferem no processo, mas faz parte, logo mais alivia).
Se você trabalha com marketing, clique aqui e participe da formação ainda esse ano.